Saturday, June 7, 2008

Ten little indians


Há uma praça no centro da cidade onde moro, atravesso-a quase que diariamente.
Há uns dois meses tenho visto um espetáculo que me faz chorar sem controle.
Uma roda de índios, adultos e crianças, não sei de qual tribo perdida na história do país.
Os adultos, vestidos com roupas de "homem branco" tocam violão e vários instrumentos de percussão.
Mas o que me comove são as crianças, seis delas, três meninos e três meninas.
Eles, o peito e os pés nus. Elas, com um vestidinho verde rústico (ecológico?).
Dançam e cantam, pequenininhos, frágeis, as vozes delicadas e num volume baixo.
São tão tristes em sua beleza, que isso faz subir uma onda sufocante do meu estômago, que se espalha transbordante pelo meu peito, escorrendo sem represa pelos meus olhos.
Várias pessoas páram, assistindo, algumas colocam dinheiro numa cestinha de palha. Não ouvi ninguém aplaudir, só um silêncio cosntrangedor, que faz as crianças ficarem olhando para o chão angustiadas.
Onde estará a bravura, a coragem, a riqueza cultural desse povo, agora tão contraído e limitado articulando-se sob a copa das árvores da praça metropolitana?
O sangue índio que corre em minhas veias (sim, nós todos brasileiros, temos um pouco dele) indigna-se, fica revoltado e ressentido.
Outros povos aqui chegaram, tomaram a terra sem dó nem piedade, empurraram os sobreviventes para dentro das matas, cada vez mais profundamente.
Os que convivem com a civilização dominante são obrigados a ceder em suas tradições ou maculá-las.
Tenho evitado passar por aquela praça, tenho evitado o encolhido olhar dos pequenos índios.
Tenho evitado chorar pela decadência, devastação e extinção do outro.

No comments: